O processo: como a minha jornada para Tallinn começou (#8)

Em licença paternidade há dois meses e isolado por conta da pandemia, meus dias eram todos mais ou menos parecidos. Só que olhando para trás, em 9 de Outubro de 2020, um processo de mudança gigante estava começando na minha vida.

Meu filho estava dormindo e eu aproveitei o tempo livre para fazer qualquer coisa que demandasse o mínimo de energia possível. Tipo olhar o celular.

“Hyper-growing Bolt welcomes Global Sales Manager”, era o título de uma notificação no meu LinkedIn. Mensagens desse tipo significam oportunidades. E eu sempre penso que muitas vezes, isso é tudo que alguém precisa na vida. Uma oportunidade. E por isso, mesmo quando não estou procurando, me sinto privilegiado ao receber qualquer oferta de emprego.

“Bolt… Recent unicorn… 40+ countries… global sales… unlimited learning and growth opportunities” eram algumas das palavras na mensagem de recrutamento.

Já fazia mais de dois anos que a minha resposta padrão era alguma variante de “muito obrigado, mas não agora.” Eu estava indo bem onde eu estava. Mas era óbvio que dessa vez havia algo diferente.

“The position requires relocating to Tallinn – one of the most digitally advanced cities in the world!”

Não dava pra ignorar. Minha primeira atitude foi jogar “Tallinn” no Google. E ele me devolveu fotos de uma cidade medieval, links do wikipedia, e um mapa com uma bolinha preta no meio da Estônia. Confesso que eu sabia quase nada sobre o lugar, tirando o fato de que ele era vizinho de outros dois com nome parecido. Cliquei em um link mais institucional e rapidamente descobri o quanto a Estônia era avançada e interessante. E acima de tudo, parecia motivada a atrair pessoas para suas diversas empresas de tecnologia.

Minha esposa é mais aventureira do que eu. E quando eu contei, ela deu o mesmo sorriso que ela dá quando chega a nossa vez de entrar na montanha-russa: “E você vai falar com eles?” Eu sorri de volta. “Acho que vou, né!”

No começo eu não acreditava que realmente fosse acontecer, mas queria ver até onde iria essa história. Até onde eu iria. Marquei de me apresentar para a recrutadora. E a montanha-russa começava a se mover.

O processo seletivo começou com um extenso Business Case relacionado ao trabalho em si. Era bem prático e me deu uma boa ideia do tamanho do desafio. Mas depois de uns 6 anos trabalhando neste mercado, eu me senti pronto para encarar. Coloquei as minhas ideias em uma apresentação com a cara da Bolt, e depois de uns 4 dias devolvi o email. Trabalho completo e aguardando as próximas coordenadas.

Enquanto o time da Bolt me avaliava do lado de lá, eu investigava tudo sobre eles do lado de cá. Tudo que li me pareceu incrível, mas tem uma coisa em especial que me atraiu. Ou melhor, uma não – quarenta. Este é o número de países em que a Bolt atua e com os quais em algum momento eu iria trabalhar também. O próprio headquarters em Tallinn é super internacional, onde metade das pessoas são estrangeiras. Isso foi algo que me deixou empolgado e também mais tranquilo: quando você está pensando em mudar sua vida inteira para um país desconhecido, é ótimo que a empresa já tenha essa experiência.

A cada dia que passava, eu ia me acostumando com a ideia. Imaginava como seria a vida na Estônia e o dia a dia no escritório novo. Mas fazia de tudo para manter os pés no chão. Só de ser considerado para assumir essa responsabilidade já estava de bom tamanho. E a experiência em si havia aberto meus horizontes. “Mesmo que não dê certo, vou continuar procurando alguma coisa em outro país.” Ganhar experiência lá fora, viver pelo mundo, e dar mais qualidade de vida para o nosso filho. Meus objetivos de longo prazo já estavam sendo revistos.

Alguns dias depois de enviar meu trabalho, recebi um email com próximos passos. Era hora de marcar a primeira de um total de quatro entrevistas que eu faria ao longo das próximas semanas. Para variar, cada pessoa de um canto do mundo: Equador, Moldávia, Estônia e Inglaterra. Só em uma delas fiquei inseguro com a minha performance, mas gostei de todas as conversas que tive. Do meu lado, a Bolt já estava aprovada.

“Mas eu tô achando que vou pegar essa vaga”, falava para mim mesmo. Depois de cada entrevista, as coisas iam ficando mais reais. Até que no dia 24 de Novembro (acho que nunca vou esquecer essa cena), meu celular apitou com um email: “Claudio, your offer at Bolt, congrats!” Li em silêncio. “O que foi?” a minha esposa já estava sentido algo no ar. E eu levantei com um sorriso no rosto.

“O quê?”

“Acho que a gente vai mesmo para a Estônia!” Começamos a rir e nesse ponto a cabeça já estava a mil. Relemos o email várias vezes juntos. Ele já falava sobre o processo de mudança – um pouco mais complicado por conta da pandemia -, e como a Bolt apoiaria tudo até nos estabelecermos por lá.

Eu não conseguia acreditar e ainda tinha um monte de dúvidas. Por mais que se queira, quando chega a hora da decisão, voltam algumas inseguranças. Fiz várias rodadas de conversa com todas as pessoas nas quais eu confio para alguma coisa. Ninguém nem cogitou que eu recusasse a proposta. E realmente, pensando no longo prazo, a decisão certa para nós estava muito clara.

Então, três dias depois, escrevi de volta para a Bolt: “I’m happy to say that I accept the offer. I’m ready. Looking forward to join the team in Estonia.”

• • •

Algum tempo depois, já aqui em Tallinn. Fiquei pensando sobre a decisão em retrospecto. Muita gente me falou sobre coragem. Mudar de país, ficar longe da família, deixar uma empresa onde eu estava bem, assumir riscos… Como conseguimos decidir tão rápido algo que para outras pessoas parece ser tão difícil? Mas para mim, de verdade, difícil mesmo era recusar. Quase impossível. Pensei em como lá na frente, deixar isso passar poderia se tornar um arrependimento. Como oportunidades com potencial tão grande de aprendizado e crescimento são raras. E se algo não desse certo? A vida ia continuar no Brasil, mais ou menos como eu deixei.

Mas a verdade é que cinco meses depois eu sigo firme por aqui. Feliz demais com a decisão. E aproveitando muito a minha volta nessa montanha-russa.

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